sábado, 11 de setembro de 2010

Escavação à procura dos despojos de Mariana Barreto

Orávio de Campos e o Ministro da Eucarístia, Adaivo Ribeiro
Assim que o Vigário Geral, da Mitra Diocesana de Campos, Monsenhor Joaquim Ferreira Sobrinho der a autorização, a Secretaria Municipal de Cultura vai coordenar as escavações na Igreja de São Sebastião à procura dos despojos da heroína Mariana Barreto, contando, para isso, com o apoio do Conselho de Preservação do Patrimônio Municipal – COPPAM.

A informação é do secretário, professor Orávio de Campos Soares que, nesta quinta-feira, esteve no distrito para apurar denúncia formulada pelo conselheiro Humberto Moreira, do Conselho Municipal de Cultura, dando conta de que “os depojos estariam sepultados sob uma lanchonete vizinha à igreja”, fato este que, felizmente, não se confirmou.

APURAÇÃO

No distrito, o professor Orávio manteve contato, primeiramente, com as paroqueanas Margarida Henrique dos Santos e com Maria Geni Cordeiro Moço, esta com 80 anos, a maioria dedicada à fé em São Sebastião. “Foi importante a contribuição dessas senhoras para a elucidação do caso. Afinal onde se encontram os restos mortais da heroína?”, comentou o secretário de cultura.

A paroquiana  Maria Geni Cordeiro Moço
O secretário salientou que recebeu informações precisas de que na reforma geral da igreja, (construída no século XVIII, na época do Barão de São Sebastião) os restos mortais foram encontrados e, como nas obras foram retirados os pisos de madeira soterrando o antigo porão do templo, “mandei colocar os despojos numa caixa de madeira”, disse D. Maria Geni.

O encarregado de acompanhar o restauro à época, o ministro da Eucaristia Adaivo Ribeiro, disse que “a caixa não se encontra sob o piso da lanchonete e sim em outro local”, que seria indicado, logo depois, com a presença do administradr Paroquial, Pe. Elênio Barros de Abreu, autorizando que ele prestasse as informações necessárias sobre o assunto.

Administrador Paroquial Pe. Elênio Barros de Abreu


- Foi aqui que encontramos os restos mortais – disse Adaivo, apontando para um espaço ao pé do nicho dedicado ao Sagrado Coração de Jesus. Depois conduziu a equipe à Sala dos Dízimos, onde, segundo ele, mandou cimentar a caixa, quase junto à parede. Diante da importante descoberta, o secretário está enviando ao Vigário Geral autorização para a exumação.


  
Local onde foi encontrado os despojos nos anos 80


Local onde será feita a escavação


MONUMENTO
Embora alguns defendam a possibilidade dos despojos serem transportados para o Panteão dos Heróis, no anexo ao Palácio da Cultura, a comunidade católica de São Sebastião sugere que um monumento seja erguido nos jardins da igreja, com uma placa alusiva e uma publicação falando do empenho de Mariana Barreto na luta contra os Assecas.

 

Igreja de São Sebastião
O secretário Orávio disse que vai levar o assunto ao Prefeito Nelson Nahim e sugerir esta segunda possibilidade, considerando que, quando ainda vivia, a filha de Benta Pereira expressou, por escrito, o desejo de ser sepultada junto ao altar-mór da igreja de São Sebastião. “Retirar os despojos de lá, agora, seria contrariar no devir a vontade da heroína”, finalizou.

BIOGRAFIA

MARIANA BARRETO (de Souza)

Era filha de Pedro Manhães Barreto e Benta Pereira de Souza. Casou-se com Jerônimo Ferreira de Azevedo. De seu casamento teve os seguintes filhos: Pedro Manoel, Ana, Maria, José, Antonio, Jerônimo e Josefa. Por ocasião do seu falecimento, só existiam os dois últimos filhos, isto é, Jerônimo e Josefa. Sabendo-se que José e Maria não chegaram a se casar.

Por outro lado, Manoel e Antonio, foram casados e deixaram filhos. O mesmo aconteceu com Ana que teve uma filha de nome Clara. Mariana Barreto era considerada na sociedade campista uma senhora abastada. A prova é que possuía muitos escravos, assim como muitas terras.

De sua propriedade, era, por exemplo, a Fazenda de Colomins, da qual desmembrara cerca de 200 braças para vender pelo preço de 100 mil réis, 50 das mesmas ao cidadão Felizardo José Manhães e as demais 150 braças passou para dois de seus filhos e para a sua neta Clara, pelo preço de 1 mil réis a braça.

Além disso, Mariana Barreto chegou a possuir em São João da Barra, que nessa época era conhecida por São João da Praia, um bom criadouro e mais uma situação chamada “Ganguela”. Consta que ainda em vida vendeu ao Capitão Manoel Macedo, uma porção de terras que tinha ao lado norte do Rio Paraíba, em frente à propriedade conhecida por “Ganguela”.

Mariana deixou testamento feito em 1º de junho de 1790, isto na residência do Alferes João Manhães Barreto, o qual foi aberto no dia do seu falecimento pelo Dr. José Pinto Ribeiro, que na ocasião tinha o cargo de Ouvidor-Geral e se achava na então Villa de São Salvador. Por outro lado, constituiu herdeiros dos remanescentes de sua terça, depois de pagos alguns legados pios, aos seus filhos e neta Clara, já aqui referidos.

Quanto aos seus testamenteiros, expressou-se desta maneira: “Torno a pedir a meu filho Jerônimo Ferreira Faísca e em segundo lugar a minha filha Josefa Maria de Jesus e em terceiro lugar a Felizardo José Manhães, por serviços de Deus e por me fazerem mercê, queiram aceitar este meu testamento, etc.”.

De Jerônimo Ferreira Faísca, que foi dono da Fazenda Ganguela, procedem os Faíscas, em cujas veias corre o sangue das duas grandes heroínas, Benta Pereira de Souza e de sua filha Mariana Barreto de Souza, as duas mulheres destemidas que nos legaram um exemplo de coragem e abnegação.

No seu testamento, dizia: “Estando no meu perfeito juízo e entendimento que Nosso Senhor me deu, temendo-me da morte e desejando pôr a minha alma no verdadeiro caminho da salvação, por não saber o que Deus Nosso Senhor de mim fará, faço este meu testamento da forma seguinte: Primeiramente encomendo minha alma a Santíssima Trindade”, etc.

Entre outras recomendações faz a seguinte: “Meu corpo será sepultado na Capela do glorioso mártir São Sebastião e amortalhado no hábito de São Francisco e acompanhado do meu reverendo pároco e pelos sacerdotes que se acharem que dirão missas de corpo presente”, etc. Após deixar muitas missas encomendadas e de citar de quem era filha e o lugar em que nasceu, disse que deixava os escravos, João, Timóteo, Sebastião, Joaquim, Domingos, Teodoro, Claudiano, Francisco, Caetana, Maria, Inácia, Bernarda e Merenciana.

O testamento de Mariana Barreto que foi assinado a pedido da testadora por José Antonio Pereira de Carvalho, foi aprovado pelo tabelião ajudante do serventuário Joaquim José da Silva Furtado de Mendonça. O segundo a assinar por solicitação da testadora foi José de Brito e como testemunhas, Manoel da Silva Dias, José Fernandes Pereira, Luiz Caetano de Souza, Vicente de Oliveira e Silva e Manoel José Bastos.

Mariana Barreto de Souza faleceu no dia 22 de dezembro de 1795. Foi sepultada, como pediu, na Capela de São Sebastião, amortalhada no hábito de São Francisco, e acompanhada pelo vigário de São Gonçalo, padre Francisco Rodrigues de Aguiar e por seis sacerdotes que rezaram missa de corpo presente.

Consta que, na época de sua luta junto com Benta Pereira contra os camaristas, entrou na Câmara, prendeu todos os vereadores e os expulsou da Villa de São Salvador, sendo presa e punida com a pena de deportação. Conseguiu, com as riquezas que tinha, comprar o não cumprimento da pena imposta, tanto a ela como aos outros componentes da família, se mantendo na sua terra natal até sua morte.

Assim como seu irmão Francisco Manhães Barreto e sua mãe-heroína Benta Pereira, Mariana Barreto de Souza é hoje nome de rua na sua cidade de Campos dos Goytacazes, que tanto amou e soube defender com destemor.

Pesquisa: Escritor/Pesquisador Hélvio Gomes Cordeiro (membro do Instituto Historiar).